*Se não quiser adoecer...(Dr.Dráuzio Varella)


Se não quiser adoecer - "Fale de seus sentimentos"


Emoções e sentimentos que são escondidos, reprimidos, acabam em doenças como: gastrite, úlcera, dores lombares, dor na coluna. Com o tempo a repressão dos sentimentos degenera até em câncer. Então vamos desabafar, confidenciar, partilhar nossa intimidade, nossos segredos, nossos pecados.O diálogo, a fala, a palavra, é um poderoso remédio e excelente terapia.


Se não quiser adoecer - "Tome decisão"


A pessoa indecisa permanece na dúvida, na ansiedade, na angústia. A indecisão acumula problemas, preocupações, agressões. A história humana é feita de decisões. Para decidir é preciso saber renunciar, saber perder vantagem e valores para ganhar outros. As pessoas indecisas são vítimas de doenças nervosas, gástricas e problemas de pele.


Se não quiser adoecer - "Busque soluções"


Pessoas negativas não enxergam soluções e aumentam os problemas.Preferem a lamentação, a murmuração, o pessímismo. Melhor é acender o fósforo que lamentar a escuridão. Pequena é a abelha, mas produz o que de mais doce existe. Somos o que pensamos. O pensamento negativo gera energia negativa que se transforma em doença.


Se não quiser adoecer - "Não viva de aparências"


Quem esconde a realidade finge, faz pose, quer sempre dar a impressão que está bem, quer mostrar-se perfeito, bonzinho etc., está acumulando toneladas de peso... uma estátua de bronze, mas com pés de barro.Nada pior para a saúde que viver de aparências e fachadas. São pessoas com muito verniz e pouca raiz. Seu destino é a farmácia, o hospital, a dor.


Se não quiser adoecer - "Aceite-se"


A rejeição de si próprio, a ausência de auto-estima, faz com que sejamos algozes de nós mesmos. Ser eu mesmo é o núcleo de uma vida saudável. Os que não se aceitam são invejosos, ciumentos, imitadores, competitivos, destruidores. Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar as críticas, é sabedoria, bom senso e terapia.


Se não quiser adoecer - "Confie"


Quem não confia, não se comunica, não se abre, não se relaciona, não cria liames profundos, não sabe fazer amizades verdadeiras. Sem confiança, não há relacionamento. A desconfiança é falta de fé em si, nos outros e em Deus.


Se não quiser adoecer - "Não viva SEMPRE triste!"


O bom humor, a risada, o lazer, a alegria, recuperam a saúde e trazem vida longa. A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive."O bom humor nos salva das mãos do doutor". Alegria é saúde e terapia.


*A Água . . .


*A água vai pelo caminho mais fácil

Os mestres dizem: "A água vai pelo caminho mais fácil". Quando vemos um filete de água no quintal ou o curso do rio numa paisagem, é fácil"entender" esta frase. Mas quantos de nós paramos para pensar sobre essa realidade antes de ter lido ou ouvido estas palavras? Que a água vai pelo caminho mais fácil é um fato tão natural e óbvio que não paramos para pensar sobre o que isso significa. Quando observamos nossos próprios comportamentos, temos impressão que gostamos de complicar tudo.Para os sábios orientais, qualquer coisa que exija esforço demais, não é natural. Ou as coisas acontecem naturalmente, sem desgastes, ou a pessoa está atrás de alguma coisa que não corresponde às possibilidades do momento. Se existe esforço excessivo a pessoa pode estar tomada pelo desejo e pela obstinação. E, muitas vezes, para conquistar o objeto de desejo, ela acaba tendo atitudes insensatas como ir pelo caminho de maior atrito e de maior dificuldade.Tudo funciona melhor quando existe afinidade entre os elementos. Numa relação afetiva, na amizade, nas parcerias de trabalho, na ascensão profissional, as coisas funcionam dessa forma. Quando uma pessoa gostado que faz, é mais fácil progredir. Não há esforço, tudo é gratificante. Quando as pessoas são afins, não há formalidades. As coisas fluem.Não é esforço nenhum para a água descer um terreno em declive e pelos caminhos abertos.

*A água não briga com os obstáculos

Quando a água encontra uma pedra pelo caminho, não fica histérica. Ela não fica lá, parada, dedo em riste, dando aulas de boas maneiras, nem xingando a mãe da pedra. Não vê vantagem nenhuma em perder tempo e energia por causa de um incidente tão sem importância.Existem inúmeras situações no cotidiano - quase todas - que são bobagens, simples pedras de rio. Acontecem muitos incidentes em casa,no trabalho, no trânsito, na escola, no hotel, no restaurante, no cinema, mas poucas situações merecem aborrecimento e atitudes drásticas.Em vez de pensar em coisas pequenas, é melhor nos concentrarmos em coisas importantes. A água do rio vai para o mar, para o grande. É para isso que ela está no fluxo. É isso que importa. O resto são percalços naturais do curso.Tanto quanto o rio tem o propósito de levar suas águas para o mar, nós também temos uma missão de vida a cumprir. Se ficarmos enroscados em cada um dos pequenos aborrecimentos do dia-a-dia, isso só vai envenenar nossa vida. Há um consumo grande de tempo e energia quando nos irritamos e brigamos com as pessoas. Não vale a pena.Se fluirmos como um rio, não haverá nenhum desperdício, nenhuma perda.Nenhuma pedra. Ao contrário, ao fluir, nos sentiremos gratificados e felizes por estar cada vez mais perto da nossa verdadeira natureza e da nossa missão.Sabedoria é agir com suavidade, com diplomacia e não brigar com os obstáculos.

*A água se acumula até achar a borda mais baixa

Ao deparar com um buraco, a água se precipita até o fundo. Se não encontrar saída, ela se acumula e preenche o fosso. À medida que se acumula, o nível da água se eleva até encontrar uma borda baixa.Assim, ela sai do buraco e continua seu fluxo.Numa transposição dessa situação para a vida humana, podemos fazer muitas reflexões. A frase "Quando a água cai num fosso, ela se acumula até encontrar a borda mais baixa" pode ser reinterpretada da seguinte forma: "Quando uma pessoa sábia (água) depara-se com uma situação de dificuldade (fosso), ela se interioriza (acumula-se) até que naturalmente encontra a saída mais fácil (borda mais baixa)".Numa a situação complicada em que não existe solução imediata, o sábio também se acumula, isto é, volta-se para dentro de si em busca de recursos interiores. Faz da adversidade uma oportunidade para ficar quieto, para meditar como está conduzindo seus ideais, quais são seus valores mais importantes e qual é o sentido da sua existência.A água não se agita no fundo do fosso. Ela não fica enlouquecida, não"sobe pelas paredes". Não é da sua natureza a água subir pelas paredes. Ela fica quieta, não gasta energia com nada, apenas se acumula tranqüilamente e espera que a situação apresente uma saída. A água sabe que tudo flui e que é preciso preencher as depressões que encontrar pelo caminho e seguir em frente. Enquanto estiver fluindo,nada barra seu curso. Quando o sábio observa o comportamento da água percebe que a calma e a confiança na vida são essenciais para se encontrar a saída mais fácil - e mais facilmente.

*O que mantém a vida da água é o fluxo

Os mestres taoístas perceberam que tudo na vida é fluxo, tal qual a água. Se a vida é mutação, ciclo e impermanência, então a vida só poderia ser fluxo. Ou ainda, a vida só se mantém por causa do fluxo."Fluir" não quer dizer apenas "correr", "se deixar levar", "tocar em frente", "continuar a vida". Fluxo também é isso, mas é muito mais do que isso. Fluxo é entrar e sair. É circular, fazer um ciclo,beneficiar. É aproveitar o que é necessário e eliminar o que não serve mais. Como na digestão.A vida precisa fluir. Assim como a retenção de água no organismo causa problemas à saúde, a retenção de valores, idéias, conceitos,sentimentos negativos, apegos e ilusões, também fazem mal para nossa saúde psicológica.O fluxo é necessário não só para abrir espaço para o novo, mas também para que todas as coisas à nossa volta sejam beneficiadas. Permitir o fluxo é beneficiar. Impedir o fluxo é prejudicar, é sinal de egoísmo,de apego. Se represarmos um riacho para ter água apenas na nossa propriedade, prejudicaremos a vida de tudo e de todos que vivem rio abaixo.O fluxo da água ensina que precisamos ser desprendidos. Precisamos ter uma postura de desapego tanto para as coisas boas como a sorte e a riqueza, quanto para as coisas ruins como os ressentimentos e a tristeza. Porque tudo é mutável e impermanente. Porque tudo na vida,como a água, é fluxo.

*O oceano é grande porque fica no lugar mais baixo

Ao perceberem que o oceano é grande porque ocupa a posição mais baixa,os taoístas chegaram à conclusão que só é grande aquele que é humilde.A água não se esforça para ficar nos lugares mais altos.A água é o melhor exemplo do que significa servir. Ela irriga a terra,alimenta as plantas e os animais, serve de habitat para peixes e outras criaturas, embeleza os céus com as nuvens, serve como base líquida do sangue e das secreções. Tudo isto em silêncio, com humildade.A missão da água é servir. Assim como a água, os antigos sábios também se viam como canais, como veículos de transmissão da sabedoria que haviam aprendido com seus mestres e com a Natureza. Sabiam que eles eram apenas instrumentos da Natureza e que só existe uma única missão nesta vida: servir. Era nesta humildade que estava (e está) a grandeza dos sábios.Podemos trabalhar em qualquer atividade, mas a missão será sempre a mesma: servir. E servir significa beneficiar, usar nosso talento e nossos conhecimentos para colaborar para o desenvolvimento da humanidade.O tirano subjuga a população, o verdadeiro estadista serve ao povo. O arrogante é pequeno porque só quer vantagens pessoais, o sábio égrande porque é humilde e deseja o bem de todos. Esta é uma das mais belas lições morais que os chineses aprenderam com a água.

*Existe uma única água no mundo

A água que hoje alimenta e beneficia tudo o que existe na Terra é a mesma desde a sua formação.Ao beber um copo de água, não se bebe apenas água. Bebe-se todas as memórias da água e toda a história do planeta. A água que bebemos hoje já foi chuva, rio e oceano. Já foi gelo da Era Glacial, sangue do Homem de Neanderthal e lavou as mãos de Pôncio Pilatos.A percepção do ciclo da água levaram os chineses à idéia de unicidade,e, como conseqüência, a um sentimento de reverência. A água, para eles, não é só sábia, mas, especialmente, sagrada. Como tudo. Para os sábios, assim como a água é uma só, tudo no mundo é uma coisa só. E tudo é sagrado.A unicidade da água mostra que nada está isolado, nada está fora do todo e tudo forma uma única realidade. Nada é imprestável ou semfunção. A nuvem, o rio, a neve, a transpiração, a lágrima, a chuva,todas as manifestações da água têm função. Em essência, nada e ninguém é melhor do que outra coisa ou outra pessoa. Tudo e todos merecem o mesmo respeito, a mesma reverência. A partir da unicidade, os sábios orientais desenvolveram o conceito de compaixão.A água nos mostra a ligação de todas as coisas, que todos os fenômenos são a manifestação de uma coisa só, de uma coisa que é sagrada,transcendente.


*Texto retirado do Livro: A Sabedoria da Natureza/Roberto Otsu.

*O Bambu . . .


*O bambu enraíza-se bem fundo antes de crescer fora da terra


O bambu, quando plantado por semente, tem uma maneira tão peculiar de brotar e crescer que chamou a atenção dos chineses, e que se tornou uma grande lição de sabedoria. A semente, depois de colocada no solo,demora muito tempo para apresentar sinais externos de que vai vingar.No início, a semente se transforma num bulbo e depois de algum tempo surge um pequeno broto. Este broto permanece inalterado sob o solo por um longo período.Somente depois que as raízes já atingiram dezenas de metros, ao longo de cinco anos de incessante trabalho, é que o broto começa a se projetar para fora da superfície. Aí, em pouco tempo, o bambu cresce vertiginosamente e atinge a altura de 25 metros!Ao observar o comportamento do bambu, os chineses aprenderam a importância da paciência e da determinação. Muitas vezes, queremos que as coisas aconteçam rapidamente e ficamos impacientes diante da demorados resultados. Se a preocupação for mostrar resultados imediatos,corre-se o risco de sacrificar as bases, o alicerce, e, com isso,coloca-se tudo a perder.Reconhecer o que o momento presente exige e confiar: este é o segredo do bambu chinês. O bambu simplesmente faz o que tem que ser feito, no momento que tem que ser feito. E faz tudo com serenidade, segurança e coragem. Não pensa nos resultados nem sofre por antecipação. O bambu,assim como o sábio, tem confiança plena no processo, nos movimentos da Natureza e na perfeição do universo.

*O bambu cresce reto e satisfeito com seu espaço

Quem assistiu aos filmes O Tigre e o Dragão, do diretor Ang Lee, e Clã das Adagas Voadoras, do diretor Zhang Yimou, deve ter reparado nos bambuzais chineses. Um detalhe que chama atenção é que cada pé do bambu chinês se desenvolve isoladamente e não em touceiras como se vê no Brasil. Existe um espaço de cerca de um metro entre um bambu e outro.O bambu chinês é humilde, precisa de pouco espaço, não é "espaçoso",não toma espaço de ninguém. O bambu cresce reto, "na dele".Para os taoístas, o espaço do outro é sagrado porque considera sagrado o seu próprio espaço. O sábio quer crescer com retidão, sem desvios,sem interferir na vida alheia, sem fazer intervenções no processo natural da outra pessoa. Tanto o bambu quanto o sábio não querem ocupar o espaço do outro, não fazem comparações, não competem, estão satisfeitos com o que têm porque possuem uma qualidade fundamental: o senso de suficiência.Os chineses têm uma frase sobre o suficiente que é surpreendentemente simples e óbvia: "Quem se satisfaz com o suficiente, sempre tem o suficiente". Para o bambu, o espaço que ele conta para crescer é mais do que suficiente. O sábio também não quer nada além da sua necessidade. O filósofo italiano Sêneca disse: "Só desejarás a justa medida das riquezas: primeiro, o necessário; segundo, o suficiente".O bambu está satisfeito com tudo, por isso não sofre com sua situação.O bambu é sereno, despojado, cresce reto e satisfeito com seu espaço.É livre e feliz. O sábio que segue seu exemplo, também.

*O bambu é uma planta simples

O bambu chinês tem muita personalidade: é firme sem ser rígido,elegante sem ser chamativo, altivo sem ser arrogante. Mas ele é, acima de tudo, uma planta simples.Quem já viu pinturas de aguadas chinesas (shie-i) ou japonesas(sumi-ê), percebeu que o bambu é um tema freqüente. As imagens que representam o bambu se caracterizam pela simplicidade. Duas ou três pinceladas fazem o caule e um mesmo tanto de pinceladas retratam as folhas. Estes poucos traços de pincel são cercados por um grande espaço em branco, na folha de desenho. O resultado é de uma beleza que impressiona. Sob o aspecto formal, a pintura chinesa retrata o mesmo despojamento da planta, com economia de traços. O bambu é um modelo de simplicidade e por isso ele é tão apreciado pelos orientais.Simplicidade é uma qualidade estética universal. Grandes artistas e pensadores sabem disso. A intenção deles é produzir obras cada vez mais simples, mais limpas e despojadas. Para eles, a simplicidade é uma conquista, uma das principais qualidades de um trabalho, e não uma deficiência.Pintores como Picasso, especialmente na velhice, Piet Mondrian,Tikashi Fukushima, Juan Miró, Malevitch, Tomie Ohtake, escritores como Manoel de Barros, Mário Quintana, cineastas como Akira Kurosawa,dançarinos como o Kazuo Ohno, entre outros, seguiram este caminho.Eles entendiam, assim como os taoístas, que o essencial é simples.Simples como o bambu.

*O bambu tem divisões que garantem a resistência


Se o talo do bambu não tivesse divisões, as fibras seriam compridas,iriam sem interrupções desde a raiz até o topo. Mas se as fibras do bambu fossem tão compridas e sem divisões, elas esticariam demais e o caule poderia se dobrar com qualquer vento. Os nós do bambu têm a função de dividir e de limitar o comprimento das fibras do caule. Com isso, os antigos chineses perceberam que o que dá resistência ao bambu são as divisões, os limites. Transpondo essa imagem para realidade humana, os sábios perceberam que são os limites que garantem a integridade da vida. As limitações são necessárias para a organização do mundo e para controlar as circunstâncias do cotidiano.Nada na vida é inesgotável e a falta de limites, em qualquer área,leva o ser humano à indefinição, à exaustão, e em alguns casos, até à autodestruição. O homem tem livre-arbítrio, mas não tem possibilidades ilimitadas. Isso não é próprio à natureza humana. Os limites auto-impostos com consciência são a base da ética e da formação do caráter.Quando os chineses falam em limites, eles estão se referindo a limites corretos, a atitudes moderadas. Num violão, se as cordas estiverem frouxas, não conseguimos tirar nenhum som; se as cordas forem esticadas demais, elas se arrebentam. Existe uma tensão correta para que as cordas consigam vibrar e produzir música. Existe um limite correto para tudo.

*O bambu curva-se no vendaval para não quebrar

Talvez essa seja uma das características mais conhecidas do bambu. Os antigos chineses aprenderam a importância da flexibilidade ao observar como essa planta se comporta numa ventania. Perceberam que uma árvore rígida quebra-se com um vento muito forte. O bambu não. Ele se curva e depois que o vendaval passa, volta intacto à posição original.A flexibilidade é a capacidade de se adaptar às circunstâncias da vida, significa não ter posturas rígidas em termos físicos ou psíquicos. Uma pessoa de moral rígida demais também pode se "quebrar"como um carvalho ao vento.Segundo os sábios orientais, a rigidez é sinal de morte. Uma pessoa rígida não vive, está morta, é como o tronco de uma árvore seca.Flexibilidade é sinal de vida. Uma planta viva é flexível, uma planta morta é rígida. Um bebê é flexível e cheio de vida, o idoso é mais duro e sem a mesma vivacidade da criança.Flexibilidade também envolve o conceito de não-resistência. No sentido mais profundo, flexibilidade significa capacidade de não resistir às coisas naturais que nos acontecem. Por exemplo, o bambu não resiste à força do vento. É a não-resistência que evita danos.No taoísmo, existe a expressão Wu-wei que se refere à não-resistência.Wu-wei significa deixar-se levar pelo movimento natural. Tentar evitar alguma coisa natural é se opor aos impulsos da vida.

*A maior qualidade do bambu é o vazio interior

Se o bambu tivesse o talo maciço, ele seria pesado, rígido,inflexível. Com isso, os taoístas perceberam que é o vazio que garante as qualidades do bambu. O vazio é um dos conceitos fundamentais do pensamento oriental.Para a maior parte das pessoas, o vazio tem um sentido negativo.Significa nulidade, inexistência, zero. Para os orientais é o oposto.Se o bambu tem suas virtudes por causa do caule oco, então o vazio tem um sentido positivo. O vazio é a origem de boas qualidades, é algo que se valoriza e permite a existência das coisas. Basta pensarmos de modo inverso. Se o elevador estiver lotado, não podemos entrar. Se nossa mente estiver entulhada de preocupações, não podemos pensar direito.É dessa forma que os sábios antigos viam o vazio. Não pela ausência,mas sim pelas possibilidades que ele abre, pelos benefícios que ele traz. É uma visão positiva e não negativa. Um antigo texto chinês, o Tao Te Ching, diz: "O vaso é feito de argila, mas é o vazio que o torna útil. Abrem-se portas e janelas nas paredes de uma casa, mas é o vazio que a torna habitável".O vazio é invisível. Apesar de óbvio, esse detalhe é fundamental porque mostra que as coisas mais importantes são invisíveis. Os sábios sabem que existem coisas mais profundas do que as aparências. Para os mestres orientais, o vazio é universal, onipresente. Percebiam que o Sol flutuava no céu, no vazio, que a lua flutuava no escuro da noite, no vazio. Para os mestres orientais, "universo", "o todo" e"vazio" são conceitos correspondentes. Tudo nasce no (e do) vazio e tudo volta para o vazio. O mesmo vazio do bambu.


*Texto retirado do Livro: A Sabedoria da Natureza/Roberto Otsu.

*A Árvore . . .


*Goiabeira dá goiaba


Os filósofos e teólogos da Idade Média ocidental empregavam a palavra"qüididade" para definir a realidade tal como ela é.

"Qüididade"significa: a essência de uma coisa, as condições que determinam uma realidade particular, a qualidade essencial de um determinado ser. Em resumo, quer dizer que uma coisa é o que é, apenas isso.Esta visão é correspondente à abordagem taoísta da realidade. Tudo isso pode ser sintetizado numa frase de grande profundidade que, por mais complexa que seja, vale a pena ser memorizada. A frase é:"Goiabeira dá goiaba". Parece piada? Não é. Isso é fundamental! Na prática, nós não temos noção real do que é qüididade. Ignoramos esta palavra. Pior, não temos este conceito em nossa vivência diária. Não compreendemos em profundidade que tudo é o que é e que goiabeira dá goiaba.Muitas vezes sofremos por não aceitarmos a realidade. No fundo gostaríamos que a realidade fosse diferente, e do modo que nós consideramos melhor.Os sábios não ficam pensando como as coisas poderiam ou deveriam ser.Não lamentam que as coisas não sejam como eles gostariam. Em vez disso, afirmam a realidade: "É assim!". Pronto.Somente com a percepção da realidade e com sua afirmação é possível atuar de modo efetivo porque estaremos lidando com circunstâncias reais e não com quimeras. Toda e qualquer atitude deve ser tomada em função da realidade, da situação real do presente e não em função do passado consumado ou do futuro incerto. Quando se diz "é assim que é"não se busca resignação, mas a compreensão clara da realidade para, a partir dessa realidade, tomar uma atitude.

*A copa não existe sem a raiz


Uma árvore não é apenas o que se vê externamente. Do mesmo modo, o ser humano não é só aquilo que se apresenta aos nossos olhos. A árvore tem raízes escondidas debaixo da terra, e o homem tem "algo" escondido dentro de si que são suas mais profundas raízes.A copa e o tronco são as partes visíveis da árvore. Correspondem ao que as pessoas enxergam de nós, é a nossa aparência, o que queremos que as pessoas conheçam da gente.As raízes ficam abaixo da superfície da terra. É a parte obscura e"suja" da árvore. Nós, seres humanos também temos uma parte que escondemos das pessoas. Todos os nossos impulsos secretos, nossas vergonhas, nossos medos, nossos pensamentos "sujos", nossas vontades inconfessáveis e as nossas fraquezas são ocultados - consciente ou inconscientemente - na sombra da psique. Essa parte é natural e um componente necessário na formação da nossa personalidade, tanto quanto a raiz é necessária para a árvore como um todo.A árvore é um conjunto integrado. O ser humano também deve integrar os aspectos superiores e inferiores. A árvore é completa, é plena. Do mesmo modo, o ser humano equilibrado não busca a perfeição, já que é uma mutilação, mas sim a plenitude. O homem só é pleno quando legitima seus impulsos subterrâneos e integra harmoniosamente os aspectos conflitantes da sua personalidade.

*As folhas caem, o tronco fica

Ao desenhar ou imaginar uma árvore visualizamos o tronco e a copa cheia de folhas, mas não pensamos nos galhos que se escondem sob o volume da folhagem. Sem perceber, nós valorizamos mais as folhas, as flores e os frutos e, com isso, os galhos são esquecidos. As folhas,as flores e os frutos são importantes, sem dúvida, mas são passageiras, vêm e vão a cada ciclo do ano. As únicas coisas que permanecem - e crescem - são os galhos e o tronco. A essência da árvore é o tronco e os galhos.Uma pessoa também tem folhas, flores e frutos. São suas roupas, sua beleza física, seus acessórios, seu carro, a maquiagem, os perfumes, o produto da fábrica onde trabalha. Também são seus títulos, seu reconhecimento social, seus conceitos, seu discurso, as obras artísticas e científicas que produz. Mas essas coisas não são a pessoa em si.A estrutura ética e moral é o tronco de uma pessoa. São os valores e os objetivos interiores mais elevados que dão sustentação à vida de um ser humano digno. Beleza, recursos materiais e resultados são como flores, folhas e frutas da árvore, que merecem ser apreciados, mas não são fundamentais para a vida da árvore. A falta de beleza, de recursos ou de resultados não compromete a existência de uma pessoa elevada,mas a ausência de valores como ética, honradez, justiça, honestidade,respeito humano, firmeza, coragem, entre outras coisas, é como ser uma árvore sem tronco. Esses valores são permanentes numa pessoa evoluída e sábia porque ela sabe que as folhas caem, mas o tronco fica.

*O tronco cresce em camadas


No Museu Florestal da cidade de São Paulo, está exposto uma fatia de um tronco de uma árvore centenária. O corte do tronco possui um pequeno círculo no centro circundado de centenas de anéis de diâmetros cada vez maiores. O centro corresponde ao primeiro ano de vida da árvore e cada um dos anéis à sua volta corresponde a um ano de sua existência.Uma camada reveste a outra. É dessa forma que a árvore cresce e o tronco fica cada vez mais encorpado. Na vida humana, acontece a mesma coisa. Nosso desenvolvimento acontece em acúmulos constantes de informações, de experiências e de conclusões.O ego corresponde à primeira camada que fica no centro do tronco e a consciência cada vez mais elevada corresponde às camadas maiores do tronco. O ego só pode ser transcendido se houver uma consciência maior do que ele.Quando só pensamos em doenças, em problemas e infelicidades, ficamos na camada menor, não vamos para as camadas maiores do tronco. Mas quando conseguimos pensar que os problemas fazem parte da vida, que aquilo que está nos acontecendo não é a nossa vida como um todo, mas apenas um momento da nossa vida, que as dificuldades não vão durar para sempre, as coisas mudam de figura. Isso é ampliar o ângulo de visão, é ver as coisas dentro um continente maior, dentro de uma camada superior.

*A fruta cai no chão para gerar uma nova árvore

Depois que amadurece, a fruta não fica na árvore. Em pouco tempo, ela se desprende do galho e cai. O I Ching - O Livro das Mutações, ao abordar esta fase da Natureza, fala de uma "conexão entre a decomposição e a ressurreição" e diz que "é preciso que o fruto apodreça antes que a semente nova possa se desenvolver".Para os sábios chineses, a decomposição da fruta representa a conclusão de uma fase e o início de uma nova etapa da vida da árvore.O apodrecimento da fruta não significa término de tudo, mas uma transformação necessária para que o novo surja. É essa transformação que permite que a vida se renove e se perpetue. Dentro do pensamento oriental, esta regra vale tanto para a árvore quanto para o ser humano.Não temos plena compreensão do que são ciclos naturais quando se tratada nossa própria vida. Muitas vezes, mantemos uma determinada situação por apego, hábito, teimosia, dependência, comodismo ou medo de arriscar e mudar. Em muitos casos, agimos como se fôssemos uma fruta madura que não quer se desprender da árvore. A transformação é inevitável, é a lei da vida.Uma pessoa que tem consciência disso não se deixa levar por pensamentos negativos quando percebe a realidade transitória da sua vida. Não se desanima pelo fato de que a juventude, o vigor e a capacidade intelectual um dia entrarão em declínio e não terá a eternidade para conquistar tudo o que sonha ou para consertar o mundo.Para uma pessoa evoluída, deixar sementes é mais importante do que comer os frutos e a desintegração não a amedronta.

*A árvore começa com a semente


Na Natureza, a semente gera um broto, o broto se transforma numa muda,a muda se transforma numa árvore, a árvore dá frutos e os frutos produzem novas sementes. O comportamento humano tem paralelo com este ciclo natural. Para os taoístas, tudo o que o ser humano faz começa com uma intenção, que seria correspondente à semente, e tudo tem um resultado, que seriam os frutos. Os mestres chineses afirmam que o ser humano está inserido num ciclo que pode ser virtuoso ou vicioso e ensinam que este ciclo tem a seguinte dinâmica:A intenção leva a uma ação, a ação cria um hábito, o hábito determina um modo de vida e o modo de vida gera um carma.Num sentido mais amplo e isento de conotações metafísicas, carma pode ser entendido como conseqüência ou efeito. Dentro do paralelo com a natureza, a intenção é a semente que dá origem à árvore e o carma (ou conseqüência) seria correspondente ao fruto que esta árvore produz.Boas sementes e intenções corretas geram boas árvores e como conseqüência podemos viver tranqüilos debaixo das suas copas com muita sombra e água fresca. E mais: quando se escolhe a boa semente, quando se tem intenções corretas, a dinâmica do ciclo se torna criativa,virtuosa, e conseguimos viver um estado de paz interior e de serena felicidade durante todo o processo, em todas as circunstâncias.Afinal, todas as situações da nossa vida, a qualquer momento, são necessariamente conseqüências. São frutos que começaram a partir de uma semente.


*Texto retirado do Livro: A Sabedoria da Natureza/Roberto Otsu.

*O Yin e o Yang . . .


*O dia tem sombras e a noite tem a luz dos astros

Os chineses dividiram as manifestações da Natureza em duas categorias.Para eles, tudo o que existe no mundo pode ser classificado em aspectos Yin ou em aspectos Yang. Assim, o dia, a claridade, o calor e o visível são aspectos yang da Natureza, enquanto que a noite, aescuridão, o frio e o invisível são seus aspectos yin.A polaridade, segundo os orientais, não é absoluta, estanque e excludente. Eles não falam em oposição pura e simples e sim em complementaridade. No Taoísmo, yin e yang não são opostos que se excluem. Ao contrário, são opostos que se inter-relacionam, que se complementam. É isso que nos mostra o símbolo do Yin-yang.Dentro da área larga de cada cor, vemos um ponto da cor oposta. O ponto preto são as sombras do dia e o ponto branco é a luz das estrelas e da lua dentro da noite. Segundo os taoístas, os pontos decores opostas mostram que dentro de cada aspecto também existe o seu contrário. A vida funciona em harmonia por causa dessa realidade. Por exemplo, para que uma pessoa venha ao mundo, acontece a fusão de uma célula feminina, o óvulo, com uma célula masculina, o espermatozóide.Não importa qual será o sexo da criança que vai nascer a partir da fecundação, mas ela terá um pouco do sexo oposto na sua constituição.Não existe luz total nem treva total. Por isso, viver em equilíbrio significa evitar a polarização para apenas um dos lados; é experimentar todos os aspectos da vida de forma moderada, sem exageros, sem extremismos, e dentro de sua própria natureza.


*Não existe separação entre o dia e a noite


Há milênios, os taoístas afirmam que a polarização, a divisão e a exclusão, são a origem dos conflitos, sofrimentos e frustrações. Para eles, o mundo não se divide em dia e noite pura e simplesmente.Não existe um interruptor entre a noite e o dia. Quando se percebe, já é dia ou já é noite. Não ouvimos nenhum clique no céu para nos avisar que já ficou escuro ou claro. Não há nada que indique o instante exato em que o dia se transforma em noite. Com isso, os sábios chineses perceberam que não existe separação entre os opostos. Uma coisa se transforma na outra, uma coisa gera a outra num continuum sem divisões. Os sábios chineses chegaram a uma conclusão fundamental: o que separa uma coisa da outra é o infinito.Entre o dia e a noite, existe um período que se chama transição.Transição significa que se percebe o trânsito. Quando existe trânsito entre os conceitos, existe transigência, tolerância, acordos. A visão dualista, ao contrário, é intransigente e gera intolerância contra os diferentes, contra os opostos. Quando se percebe que existe transição entre todos os conceitos, assim como existe transição entre o dia e anoite, é possível chegar a um acordo entre os opostos. É possível condescender, conseguimos tolerar as oposições de forma saudável e criativa.O sábio harmoniza os conflitos interiores e se sente ligado ao todo, a uma lógica e a uma sabedoria que transcende a própria pessoa. Por isso, está sempre em paz com ele mesmo e com o mundo.


*A noite é a realidade do universo

O céu não é claro nem azul. É a luz do Sol que incide sobre a camada de gases do planeta e dá o aspecto azulado e brilhante que percebemos durante o dia. Mas, à noite vemos como o universo é de fato. Sem a luz do Sol, tudo volta à escuridão, o céu fica transparente e enxergamos a Via Láctea. As estrelas não aparecem à noite nem desaparecem quando chega o dia. Elas estão sempre lá. É a massa de ar do planeta que fica"opaca" com a incidência da luz do Sol e bloqueia a visão das estrelas durante as horas claras.Isso mostra que podemos nos iludir com o dia, com as coisas do dia,com as coisas diárias, do dia-a-dia. Nos iludimos com as atividades,com a racionalidade, com as coisas imediatas e rasas. Significa que as coisas essenciais estão na escuridão, na noite, no silêncio. As coisas eternas estão escondidas, longe da luz, longe dos holofotes, atrás das cortinas, atrás do brilho e são infinitas e profundas como o universo.Na Terra, a luz do dia bloqueia a visão das estrelas, ou seja, as coisas aparentes bloqueiam a visão da essência, das coisas universais.Não se trata de valorizar a escuridão em detrimento da luz. Trata-se de ter consciência de que o que se vê não é a realidade total e que existem coisas mais profundas que ficam além do que se vê normalmente de dia e no dia-a-dia.Quando não existe o céu azul, é possível ver as estrelas. Quando não existem as ilusões das aparências, é possível ver a essência.


*Estrelas são direções e não metas


As estrelas ultrapassam os limites humanos em termos de tempo e de espaço. Elas são eternas e inconcebivelmente maiores do que o homem e a Terra.Tanto na viagem noturna pelo mar adentro quanto na viagem pelo aprofundamento do nosso mundo interior, a estrela representa a direção, o sentido em que se deve seguir. Um navegante vai em direção da estrela-guia, mas não vai para a estrela. Ele não quer chegar na estrela, mas apenas vai em sua direção.Buscas como sabedoria, conhecimento de si mesmo, eliminação do ego,desapego, amor universal, super-consciência e outros grandes ideais,também são indicadores de direção, exatamente como as estrelas são para os navegantes. Mas se a direção for encarada como meta, como objetivo, então ela se transforma num objeto de desejo, se transforma em alguma "coisa" a ser conquistada. Se forem objetos, serão desejos do ego, serão apegos.As estrelas no céu nos mostram que existem coisas muito profundas que são inalcançáveis e que ultrapassam os limites humanos. Sem as estrelas, sem algo profundo que nos direcione e dê sentido à existência, ficamos no mesmo lugar, presos nas mesmas atividades cotidianas, com os mesmos pensamentos. Com o infinito, o eterno e o transcendente como parâmetros, vamos além dos pensamentos de sempre,dos sentimentos mesquinhos e egoístas, ultrapassamos os conceitos e preconceitos. Precisamos de coisas que estão fora da nossa vida diária(o transcendente) para orientar nossa vida.


*O movimento do Sol é aparente


O navegante precisa ter certeza de que o Sol vai nascer à leste e morrer no lado oeste. Porém, o Sol não nasce nem morre. Não é o Sol que nasce e morre; é a Terra que gira. O movimento do Sol é aparente.A lição mais óbvia do movimento do Sol é a de que "as aparências enganam". Podemos nos iludir com o que vemos. Mas, na realidade, a maior lição talvez seja outra. Não são as aparências que enganam. As aparências são aparências, elas não querem nos enganar só para rir da nossa estupidez. Nós é que nos enganamos. Não é o Sol que nos engana com seu movimento, nós é que desconhecemos a realidade ou nos esquecemos dela e julgamos que o Sol nasce de um lado e morre do outro.Em todas as situações quando não temos explicações verdadeiras nem a percepção do todo, de um modo abrangente, costumamos fazer julgamentos. A conclusão que podemos chegar com isso, é surpreendente:só fazemos julgamentos quando não sabemos a verdade. Em vez de buscar a verdade, preferimos fazer julgamentos a partir das aparências. Por isso, o problema não é que as aparências enganam; o problema é que nós não sabemos a verdade e fazemos julgamentos a partir das aparências, e acreditamos neles como se fossem verdade.O julgamento é um ponto cego da mente. Ele desconsidera toda e qualquer possibilidade de resposta que não tenha origem no que vemos,ouvimos e sentimos. A postura do sábio é a da receptividade neutra, é a de permanecer vazio e aberto às situações e às pessoas. Sem fazer julgamentos.


*A luz do Sol incide sobre tudo


Durante o dia, numa paisagem campestre, a luz do Sol incide sobre a montanha, as nuvens, o rio, as árvores, as vacas, a casa, o camponês,enfim, sobre tudo. Essa incidência da luz solar que acontece ao mesmo tempo sobre todas as coisas, pode ser chamada de "incidência simultânea" ou "co-incidência". Com isso, podemos entender que tudo já é "co-incidência" ou, para usarmos a palavra da forma correta, tudo jábé "coincidência".O I Ching é baseado na "co-incidência". Para um taoísta, a pessoa que consulta o I Ching é um ser humano que existe dentro do universo. Os sentimentos e os pensamentos que essa pessoa tem, fazem parte dela e,portanto, fazem parte do universo. Os eventos que ela vive no momento são coisas que acontecem dentro do universo. O I Ching existe dentro do universo. A consulta ao I Ching também é um evento que acontece dentro do universo. Na cosmovisão oriental, tudo faz parte do universo, está inter-relacionado e forma uma única realidade. Assim,todos os eventos internos e externos à pessoa estão interconectados,tudo já é coincidência.A Natureza e o I Ching são existências coincidentes e inseparáveis. A intenção do I Ching é a de nos apontar o caminho da sabedoria a partir das imutáveis leis da Natureza. Assim como o Sol incide sobre todas as coisas, o I Ching joga luz sobre todas as situações da nossa vida através das coincidências significativas.


Texto retirado do Livro: A Sabedoria da natureza/Roberto Otsu.

*As quatro estações . . .


*O significado das estações


Na China, as estações são nítidas e distintas. As mudanças climáticas que ocorrem durante o ano influenciaram o modo de vida e a forma de pensar do povo chinês. Foi a partir das estações que os taoístas formularam os fundamentos da sua sabedoria.


Primavera - Para os orientais, primavera significa início de novo ciclo. Surgem os primeiros ventos quentes, a neve e o gelo começam a derreter, os rios voltam a correr e ficam mais caudalosos. Nascem as primeiras folhas da grama do campo. É a época das flores, do acasalamento dos animais e o momento de iniciar o plantio.


Verão - Os chineses consideram o verão o auge, o momento da plenitude.Os brotos crescem rapidamente. A vida entra em ebulição. Com a fartura de alimentos desta época, os filhotes recém-nascidos ficam cada vez mais fortes. É o momento de aproveitar a abundância da Natureza.


Outono - No Oriente, esta época representa o declínio. Com a queda da temperatura, os animais começam a se preparar para a época de estagnação. A Natureza agora produz os últimos frutos que os animais eos homens precisam ingerir e estocar para suportar o frio que se aproxima.


Inverno - Inverno é o momento de recolhimento, de introspecção. A vida se paralisa. Rios e lagos se congelam e as árvores perdem suas folhas.Nesta fase do ano, nada mais resta a fazer senão se recolher e esperara chegada dos primeiros ventos da primavera. E com a primavera,inicia-se um novo ciclo.

*O conceito de Mutação

Para os taoístas, nada permanece inalterado na vida, tudo é um processo de contínua transformação. A Mutação é um dos principais fundamentos do Taoísmo.O ser humano passa por um processo análogo ao das estações do ano.Nossa vida pode ser entendida como um ciclo completo de mudanças em que a primavera corresponde à infância, à fase inicial da vida; o verão se refere à juventude, ao auge da força e da virilidade; o outono representa a meia-idade, o declínio do vigor e das capacidades físicas; o inverno é a velhice, a estagnação das funções vitais e o recolhimento.As estações do ano fazem que as plantas e os animais se adaptem às condições de cada momento para que possam sobreviver, crescer e se perpetuar. Os seres humanos também precisam acompanhar harmoniosamente as mudanças da vida.Quando não mudamos de acordo com o momento e não vivenciamos o que é correspondente a cada fase da existência, deixamos de viver de forma plena. Viver é mudar, adaptar-se, aproveitar cada etapa da vida e não ir contra as leis naturais. Para os chineses, tentar colocar-se acima da Natureza é insensatez. Precisamos acolher as leis da Natureza com humildade e reverência. Só assim podemos manter nossa saúde e a nossa paz interior.

*O conceito de Ciclo


A vida é um fluxo constituído de ciclos assim como acontece com as estações do ano. Ciclo é outro conceito básico que os taoístas desenvolveram a partir da contemplação da Natureza.Mutação e ciclo são necessários para que aconteça a renovação da vida.Sob um aspecto, existe retorno a um ponto de referência, mas, por outro, nada permanece igual. Ao fim de cada ciclo, as árvores se desenvolvem, os animais ganham nova pelagem e todas as criaturas vivas se renovam com o nascimento de novos indivíduos da sua espécie.O ditado chinês "Sempre a primavera, nunca as mesmas flores" sintetiza com perfeição as idéias de mutação, ciclo e renovação. Todos os anos acontece a primavera, sem falha, mas a cada primavera brotam novas flores. Apesar da repetição, a Natureza não se repete. A Natureza não caminha em círculos, mas em ciclos constantes em que cada retorno representa uma evolução, um passo a mais, um degrau acima da fase anterior. Evolução e renovação acontecem em forma de espiral, e não dentro de um círculo. Num círculo, tudo volta ao mesmo ponto, mas numa espiral o retorno ao ponto de referência se dá num outro nível, num patamar acima.Quando respeitamos os ciclos, a vida flui, se renova e permitimos nossa própria evolução.

*O conceito de Impermanência


O ser humano tem necessidade de coisas duradouras, constantes,permanentes. Isso nos dá segurança, tranqüilidade, uma certeza de continuidade. É reconfortante saber que as coisas vão permanecer estáveis para sempre. Contudo, as estações do ano mostram que todas as coisas são mutáveis e nada é permanente. Ou, de outro modo, tudo é impermanente.O que ocorre é que nós, seres humanos, somos apegados às pessoas, às coisas e às situações. É comum querer que as coisas sejam permanentes.Muitas vezes, preferimos a ilusão do duradouro à realidade da mutação e da impermanência. Queremos que a vida seja do jeito que idealizamos e não do jeito que a vida é. Lidar com a impermanência é um exercício de aceitação da realidade.Desejar que um objeto, uma pessoa, ou uma parte da vida nunca se altere é aleijar a existência. Como nada na Natureza existe de forma isolada, tentar manter algo inalterado é impedir que ele continue seu processo de evolução. Pior: todas as coisas que estão interligadas com esse algo também serão prejudicadas.A Natureza nos mostra a todo instante que a impermanência é um fato e uma necessidade. Pode ser uma realidade difícil de se aceitar, mas é a realidade. A consciência da impermanência exige de nós o acolhimento da realidade e o exercício de se desapegar das pessoas, dos objetos e das situações. Das idéias e ilusões também. É interessante notar como as idéias e as ilusões são coisas das mais difíceis de se renunciar nesta vida. Mas ilusões são ilusões e não realidade.
Texto retirado do Livro: A Sabedoria da Natureza/Roberto Otsu.

*O mestre do primeiro mestre


O mestre do primeiro mestre

Havia um cachorro que latia a toda hora e o dono vivia dizendo: "Cão que late não morde!". Um dia, um amigo disse-lhe: "Então explique isso pro seu cachorro, porque ele acabou de me morder".

A Natureza é o que é. Ela não dá a mínima importância às teorias criadas pelo homem. Tudo na Natureza funciona como deve funcionar, à revelia de todos os conceitos e explicações, por mais elegantes ou complexos que sejam.
Os antigos chineses diziam que a Natureza é sábia. Por isso, afirmavam que ser sábio é seguir as leis da Natureza, fundamentalmente porque o próprio homem é fruto dela.
A Natureza nos oferece lições preciosas em todos os lugares, a todo o momento. Basta prestar atenção e observar com reverência o que ocorre à nossa volta,assim como se reverencia a um velho e sábio mestre.
Nesse tipo de sabedoria, encontramos pensamentos retirados dos textos da Antiga China como: "A água vai pelo caminho mais fácil", "O bambu curva-se num vendaval para não quebrar", "Sempre a Primavera, nunca as mesmas flores". Ou, ainda, a divertida e não menos profunda frase falada pelos peões de alguns estados brasileiros: "Boi que não bebe água ou já bebeu ou vai beber".
De repente, é como se estivéssemos ouvindo a voz de um velho mestre,ou melhor, a voz do mestre do primeiro mestre: a Natureza.
Texto retirado do Livro: A Sabedoria da Natureza/Roberto Otsu.

*Viva o presente . . .


"Carpe Diem" quer dizer "colha o dia". Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.

*Quase ( Luís Fernando Veríssimo)


* O Quase ...

Ainda pior que a convicção do não, é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase!É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase amou não amou.Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna.A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "bom dia", quase que sussurrados.Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.


A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor.Mas não são.Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.


Não é que a fé move montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance para as coisas que não podem ser mudadas, resta-nos somente paciência. Porém,preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.


Para os erros há perdão, para os fracassos, chance, para os amores impossíveis, tempo.De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.Desconfie do destino e acredite em você.Gaste mais horas realizando que sonhando...Fazendo que planejando...Vivendo que esperando...Porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

*Uma Bela História ...


No paraíso ,uma tarde,no seu mais famoso café,Lao-Tsé,Confúcio e Buda batiam um papo em volta de uma mesa.o garçom se aproximou segurando uma bandeja,onde haviam três copos cheios de um suco chamado "Vida", e ofereceu a eles a bebida.Buda imediatamente fechou os olhos e recusou,dizendo "A vida é sofrimento".


Confúcio semicerrou os olhos-ele é adepto do caminho do meio,costumava pregar o meio-termo ideal-e pediu um copo ao garçom.Ele queria tomar um gole-mas só um gole,porque,se não provasse,como poderia saber se a vida é sofrimento ou não?Confúcio tem uma mente científica;ele não era propriamente um místico,tinha uma mente muito pragmática,muito materialista.Ele foi o primeiro behavorista que o mundo conheceu,extremamente lógico.E parecia perfeitamente correto-ele disse,"Primeiro tenho de tomar um gole,para depois dizer o que eu acho".Ele tomou um gole e disse "Buda está certo,a vida é sofrimento".


Lao-Tsé pegou todos os três copos e disse,"A menos que a pessoa tome até o último gole,como poderá opinar a respeito?"Esvaziou os três copos e começou a dançar!


Buda e Confúcio lhe perguntaram,"Não vai dizer nada?"E ele respondeu,"Mas já estou dizendo-a minha alma dança e minha música falam por mim!"A menos que você prove tudo,não pode dizer nada.E,depois que provar tudo,mesmo assim não poderá dizer nada,porque não há palavras para descrever o que sabe.


*Buda está num extremo,Confúcio está no meio.Lao-Tsé bebeu os três copos-o copo trazido para Buda,o copo trazido para Confúcio e o copo trazido para ele.Ele bebeu os três copos;viveu a vida em sua tridimensionalidade.Viva a vida de todas as maneiras possíveis;não tente se equilibrar-o equilíbrio não é algo que possa ser cultivado.O equilíbrio é algo que acontece quando você experimenta todas as dimensões da vida.O equilíbrio é algo que acontece;não é algo que que você possa conseguir por meio do esforço.Se você conseguir se equilibrar por meio do esforço,esse equilíbrio será falso,forçado.E você continuará tenso,não conseguirá relaxar,pois como uma pessoa que está tentando se equilibrar no meio pode relaxar?Você vai viver empertigado,e se isso acontecer você deixará de aproveitar a oportunidade,toda a bênção da vida.

*Não viva empertigado.Não viva a vida de acordo com princípios.Viva a vida em sua totalidade,sorve-a até a última gota!Sim,às vezes ela tem um gosto amargo-e daí?Esse gosto amargo é o que torna você capaz de apreciar a sua doçura.Você só será capaz de apreciar a doçura se tiver provado a amargura.Quem não sabe chorar também não sabe rir.Quem não sabe apreciar uma boa risada,uma gargalhada,só chora lágrimas de crocodilo.Elas não podem ser verdadeiras,não podem ser autênticas.

*Eu não ensino o camino do meio,eu ensino o caminho total.A partir daí o equilíbrio vem naturalmente,e esse equilíbrio será extremamente belo e gracioso.Você não precisa forçá-lo,ele simplesmente vem.Indo graciosamente para a esquerda,para a direita,para o meio,aos poucos você atinge o equilíbrio,pois não se identifica com nenhum deles.Quando a tristeza vem,você sabe que ela passará;e quando a felicidade vem,você sabe que ela também passará.Nada permanece;tudo passa.A única coisa que subsiste é o seu testemunho.Esse testemunho traz equilíbrio.Esse testemunho é equilíbrio.

(Texto retirado : O livro da sua vida/Osho)

* O Carma



É o resultado de uma lei de responsabilidades na qual toda ação física,emocional ou mental gerará um efeito,por intermédio de uma cadeia de casualidades ligadas diretamente ao seu fato gerador(lei de causa e efeito),como o resultado merecido ou nescessário para a evolução do ser ou do grupo,conforme preconizam os preceitos evolutivos que regem o Universo.

O carma pode manifestar-se como consequência de uma ação ou opção feita individualmente ou pelo coletivo(família,nação,raça,etc.)respeitados os critérios do livre-arbítrio,gerando acontecimentos envoltos em sofrimentos sem que sejam detectadas causas justificáveis naquele momento da experiência terrena.

Em todas as ações e opções da nossa vida,quer individualmente ou coletivamente,está sendo gerado em carma correspondente,que,adicionado aos criados nas experiências passadas em outras vidas,dará o contexto à atual experiência humana.


(Texto retirado do livro:Ayurveda A Ciência da Longa Vida)